A cara metade e outras histórias pela metade



São tantas as pessoas que vêm ter comigo e que anseiam por encontrar a sua cara metade. E o que é isso de cara metade? Porque quando nós nascemos, nascemos inteiros, depois com as programações, crenças limitadoras, vamo-nos colocando em pacotes com personalidades, máscaras e defesas. Mas continuamos inteiros, como sempre fomos, a nossa percepção é que ficou distorcida. E nessa distorção mentimos a nós mesmos. Dizemos que só seremos felizes se encontrarmos aquela pessoa dos nossos sonhos, que só seremos felizes se aquela pessoa voltar para nós, que só seremos felizes com uma pessoa, a nossa alma gémea, a nossa cara metade ao nosso lado. Tudo isso são mentiras que a mente vai criando para nos manter presos na ilusão de que precisamos de alguma coisa de fora para sermos felizes. Na verdade, uma relação a dois é uma celebração, é uma partilha profunda, é um mergulho dentro da nossa luz e da nossa sombra, mas só funciona quando entramos inteiros na relação, quando entramos como reis e rainhas e não como mendigos. Quando dois mendigos se juntam ficam á espera que o outro lhe tire a fome e acabam por se comer um ao outro (e não é no bom sentido :)) Quando um deus e uma deusa se encontram criam novos mundos e potencializam o caminho um do outro, derretem no seu interior todas as barreiras e limites e permitem-se viver numa constante transformação. São os coroajosos que vêm no seu companheiro não como alguém de quem precisam, mas como alguém com quem possa brindar as suas conquistas e vitórias e assumir sem vergonhas e sem culpas os seus erros e as suas dúvidas. O amor tem em si a magia de nos abrir o coração, de nos fazer sentir vulneráveis e nessa vulnerabilidade deixar que a semente germine e se faça flor. Mas convem não confundir vulnerabilidade com fraqueza e dependência. A vulnerabilidade é para os deuses e deusas que se lançam no meio da tempestade apenas com o seu coração aberto e sabem que é só isso que é preciso. A fraqueza é próprio de alguém que se mente a si mesmo, pensando que a sua felicidade está nas mãos de outra pessoa.
Esta é a nova era das relações: não temos que provar nada a ninguém e entregamo-nos como seres inteiros que somos e deixamos as metades para as laranjas e para as maçãs.

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